Tantas vezes, ao longo da nossa existência, há um sentimento que nos toma, invocando a falta de alguém ou de alguma situação que se reveste ou revestiu de alguma significância. A significância que cada um de nós atribui às coisas vai depender de múltiplos factores, dos quais não tenciono fazer uma extensa lista, qual lista de supermercado ao fim-de-semana. Considero apenas que esse sentimento é consequência de uma selecção de elementos, cuja classificação apenas apresenta duas categorias: significante e insignificante.
Como é facilmente perceptível, estas categorias não são invariáveis, muito pelo contrário, é necessário ponderar o factor tempo nesta questão. O que num determinado momento está classificado como significante pode, num outro tempo e espaço, adquirir características que nos fazem repensar a sua classificação.
A aplicação de um dos versos do poema “Saudade” de Florbela Espanca não foi em vão, até porque as imortais palavras de Florbela Espanca revestem-se de um misticismo inebriante, que nos transporta para uma dimensão sentimental. O verso “Saudades! Sim... talvez... e porque não?...” é bem elucidativo da banalidade que é contrair um sentimento de nostalgia. Porque não ter saudades? Porque não relembrar algo ou alguém?
Poderíamos organizar um debate em que de um lado estariam os defensores da saudade e outros que defenderiam a situação diametralmente oposta, mas é quase certo que todos os argumentos iam ser subjectivos e que a conclusão seria igual ao ponto de partida desse debate, ou seja, que não existe conclusão possível.
Apesar disto, tenho uma opinião muito personalizada desta situação, considero que as saudades são representativas de todos os momentos e pessoas relevantes que cruzaram e continuam a cruzar-se na nossa vida, como tal, tudo o que é representativo ou significativo deve adquirir um lugar de destaque na nossa existência, o resto não deveria passar de uma nulidade.
Esta perspectiva não pretende ser restrita, até porque nada é certo, muito pelo contrário. A saudade deve ser uma componente presente na dimensão sentimental da nossa vida mas não a deve reger, nem deve ocupar um lugar de destaque, até porque se isso ocorrer há sempre o risco de que a nostalgia seja o único sentimento que predomine essa dimensão.
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