domingo, outubro 07, 2007

Desabafos de Domingo

Este representa só mais um dia insignificante, algumas horas aglomeradas das quais asseguro não vir a contrair qualquer tipo de nostalgia.

Observo a quietude da natureza, contento-me com a agitação da música que remete para a importância de sermos nós próprios e de não reproduzirmos um conjunto de comportamentos que nos transfiguram em seres inanimados, cujo sentido crítico e espírito de iniciativa nunca abundou, aliás, nem existiu.

Por momentos estive envolvida na áurea mística para a qual nos transporta a poesia de Florbela Espanca. Em alguns minutos reli os cinquenta poemas que constituem a obra “Eu não sou de ninguém” da autora e revi-me em muitos desses poemas, como se alguém colocasse um espelho diante de mim e poetizasse tudo aquilo que me vai na alma.

Prossegui para a obra “Sonetos” também de Florbela Espanca, editada em 1978, e reli alguns dos sonetos que outrora havia seleccionado. Ironicamente e apesar de terem passado alguns meses desde que li pela primeira vez a obra e seleccionei os poemas com os quais me identificava mais, apercebi-me que no momento presente continuo com o mesmo sentimento de empatia com que me havia confrontado no passado. Não quero interpretar este facto, até porque é isso mesmo, um facto, e por mais teorias criativas e recreativas que eu possa expor não vão, em nada, mudar o rumo dos acontecimentos.

Quando leio poesia tão sentimentalista ocorre-me sempre um pensamento: seria mais fácil ser racional do que passar por um vendaval de emoções que (infelizmente) muitas vezes não tem o melhor desfecho. Será coerente passar grande parte da vida a tentar preencher o vazio com outras pessoas quando somos nós que nos temos de complementar a nós próprios?! Acho que o grande erro da existência humana reside aí mesmo: na busca inútil de algo que possuímos e que muitas vezes nem nos chegamos a aperceber.

A racionalidade é mais verdadeira, mas como tudo precisa de oposição para fazer-nos (tentar) atingir o equilíbrio, que não é mais que uma utopia, foi criada a sensibilidade: tantas vezes traiçoeira e outras, porém, companheira.

Estou ciente de que quando vertemos uma série de pensamentos para um papel tudo parece extraordinariamente simples, todas as contrariedades propostas pela vida parecem minimidades e podem, de facto, sê-lo, se as enfrentarmos como tal.

Sei que tudo parece vago quando generalizamos e mais confuso quando especificamos, mas sinto-me mais protegida na generalização e a pisar terreno perigoso quando sou confrontada com as especificações. Como tal, continuarei percorrendo o caminho da vida como alguém que generaliza tudo mas que não se consegue abstrair das especificidades, aliás, sou muito atenta a todos os sinais que me são enviados, infelizmente há quem os ignore. Com o intuito de complementar esta ideia vou citar as palavras imortais de Florbela Espanca:

“(…) E eu ando a procurar-te e já te vejo!
E tu já me encontraste e não me vês!”

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